Breve história e em que consiste a Acupuntura

Breve histórico da Acupuntura (onde e quando aparece?)

A Acupuntura é uma técnica terapêutica milenar, desenvolvida no contexto da Medicina Tradicional Chinesa, cujo objetivo é a manutenção dos níveis de Saúde por meio da estimulação de pontos específicos do corpo, através da inserção de agulhas na superfície da pele. A palavra “Acupuntura” foi apelidada por um clérigo europeu no séc. XVII, e tem origem do latim, sendo que “acus” significa “agulha” e “punctum” significa “puncionar”, que assim a designou ao observar este método durante a sua estadia na China.

A cronologia dos conceitos e técnicas da Acupuntura é difícil de estabelecer, sendo provenientes de várias fontes cuja origem remonta há milhares de anos. O mais antigo registo é o Huang Di Nei Jing que é um resumo das experiências médicas e das conquista terapêuticas do período conhecido como Primavera e Outono (770-476 a.C.). O Huang Di Nei Jing sistematizou a fisiologia e patologia energética humana, organizou as questões diagnósticas, terapêuticas e preventivas ao estabelecer a base teórica da Medicina Tradicional Chinesa.

Nessa base teórica incluem-se os conceitos de: Qi (Energia nas suas múltiplas formas e manifestações), Yin/Yang (opostos que se complementam) e 5 movimentos (relações entre a Natureza e o Homem), sem esquecer a definição dos Jingluo (meridianos) e dos Zang Fu (Órgãos e Vísceras).

Durante a Dinastia Han (206 a.C – 220 d.C.), uma época de grande desenvolvimento na China, aparecem outros textos clássicos da Medicina Chinesa, Nan Jing e Shang Han Lun, os quais complementam toda a fisiopatologia, diagnóstico e terapêutica inicialmente descrita no Huang Di Nei Jing.

Nas dinastias Jin (220-1234) e Yuan (1271-1368) apareceram várias escolas médicas. As mais famosas são representadas pelos médicos Liu Wan Su, Zhang Cong Zheng, Li Gao e Zhu Dan Xi, os quais foram conhecidos pelas gerações posteriores como os quatro eminentes médicos das dinastias Jin e Yuan. Cada um deles, e as suas respectivas escolas teóricas, contribuíram para o desenvolvimento dos conceitos dos clássicos da Medicina Chinesa.

A Acupunctura, desenvolvida nos séculos seguintes, transformou-se gradualmente numa das terapias padrão usadas na China. Outras técnicas foram a massagem, a dietética, a fitoterapia e a moxibustão. Todas elas tendo como base os conceitos de Qi, Yin/Yang e 5 Movimentos.

No Séc. XX, por volta da década de 50, movidos pela necessidade de prestar cuidados de Saúde a uma população que se aproximava do bilião de habitantes, o governo chinês recuperou toda a importância da Medicina Tradicional Chinesa e a exploração das suas potencialidades. Os institutos de investigação da Acupunctura foram estabelecidos e a prática tornou-se disponível nos hospitais estatais.

Relativamente à sua abertura ao Ocidente, existem algumas publicações na Europa datadas do Séc. XVI traduzidas por missionários jesuítas. Nos anos de 1920, as traduções de Soulié de Morant, cônsul da França em Xangai, foram de grande importância, permitindo uma divulgação desta técnica em França, através do seu livro L´Acupuncture Chinoise, publicado em 1939.

Nos EUA, foi a partir de 1971, com o artigo escrito no New York Times por um jornalista que acompanhou o presidente Nixon na viagem que fez à China, que despertou o interesse pela Acupunctura. Nesse artigo, o jornalista descreve a sua experiência dos benefícios dos tratamentos de acupuntura no alívio da dor pós-cirúrgica (apendicectomia de emergência).

Em Portugal, a Acupuntura desenvolveu-se sobretudo a partir dos finais dos anos 70, tendo registado uma aceitação crescente junto da população fruto dos excelentes resultados clínicos que tem obtido.
Em que consiste?

A acupuntura consiste na inserção de agulhas muito finas, em pontos específicos do corpo, designados por “Pontos de Acupuntura”, cuja localização é conhecida há milhares de anos. A orientação e profundidade da agulha é definida pelo efeito terapêutico desejado, podendo variar de acordo com as necessidades do paciente. Deste modo, em Acupuntura há uma personalização do protocolo efectuado, o qual é diferente para cada paciente, pois cada paciente tem características únicas.
Nalguns casos, para potenciar o efeito terapêutico, para além da punctura, é necessário estimular o ponto, através da manipulação manual da agulha ou recorrendo a um aparelho de electro-estimulação ou um aparelho laser. O objectivo deste tipo de manipulação é o de potenciar o efeito terapêutico desejado, acelerando o processo de recuperação do organismo.

Os pontos de Acupuntura são locais com particularidades anatómicas e fisiológicas. Neles convergem estruturas nervosas e vasculares que actuam como dispositivos de entrada e de saída de sinais, controlados pela aplicação e manipulação de uma agulha. Sabe-se que os pontos de acupuntura são locais de alta condutibilidade eléctrica e baixa impedância, maior concentração de células germinativas, maior emissão de biofotões e maior quantidade de receptores neurossensoriais.

A manipulação da agulha produz uma reacção de adesão local dos tecidos envolventes, descrita pelo Dr. Yang, em 1601, como “se o peixe mordesse a linha de pesca”. Essa reacção tecidular, conhecida por De Qi, é perceptível pelo paciente e corresponde à chegada do sinal aos centros superiores do sistema nervoso central, tendo uma repercussão na produção e secreção, entre outros, de endorfina, encefalina e serotonina. É esta repercussão neuro-humoral que estará na base do efeito terapêutico da Acupuntura.

De acordo com a Medicina Tradicional Chinesa, a Acupuntura funciona da seguinte forma: a Energia (Qi) circula por todo o corpo através de canais designados por Meridianos (Jingluo). Esta circulação energéticas pode ser modulada pela estimulação de pontos específicos do corpo, os pontos de Acupuntura. Segundo esta teoria, a doença surge quando a circulação do Qi, nos meridianos, se torna desequilibrada ou é bloqueada, originando um quadro de Vazio de Energia ou de Plenitude Energia, com sinais e sintomas característicos para cada síndrome energético.

O tratamento é feito em sessões que, na maioria dos casos, são semanais. Na primeira consulta é realizado o diagnóstico de acordo com os conceitos da Medicina Chinesa. Esse diagnóstico procura determinar o desequilíbrio energético que está na base da disfunção. Para tal, recorre a um conjunto de técnicas diagnósticas específicas da Medicina Chinesa: observação da língua e palpação do pulso. Apesar desta especificidade, a Medicina Chinesa inclui na sua avaliação do paciente, técnicas muito semelhantes às da Medicina Alopática: questionando o paciente, observando, palpando e mobilizando a região lesada de modo a identificar os pontos Ashi, pontos álgicos reativos, tanto locais como à distância, que serão posteriormente estimulados ao longo do tratamento. O objetivo final é a identificação do meridiano ou meridianos afetados e, dentro deles, qual ou quais os pontos reativos cuja estimulação constituirá a base do tratamento. As sessões duram à volta de 20 a 40 minutos e a cada início de sessão é realizado uma avaliação do estado do paciente. A duração total de um ciclo de tratamento é muito variável, sendo determinada de acordo com o caso clínico.